terça-feira, 16 de outubro de 2012

Diga xis! A criança e o abutre

Você faria a fotografia ou ajudaria a criança?

A criança e o abutre 

Em março de 1993 o fotografo sul-americano Kevin Carter registrava no Sudão a representação da fome, através da imagem de uma criança que se arrastava em direção a um campo de alimentação, montado pela ONU (Organização das Nações Unidas). A ironia da imagem é o abutre, que cerca a criança pacientemente, esperando que a morte lhe sirva o almoço.
Símbolo da fome e do horror na África, a fotografia ganhou a atenção do público na capa do New York Times em 26 de março de 1993. Um ano e dois meses depois, em maio de 1994, Carter recebeu o Premio Pulitzer pela foto.
“Essa foi a minha foto de maior sucesso depois de dez anos como fotografo, mas não quero pendurá-la na parede. Eu a odeio”, falou Kevin Carter à revista American Photo.
Apesar do sucesso da fotografia, o fotografo foi muito criticado. Muitas pessoas acusaram Carter de não ter agido com ética. “Um homem ajustando as lentes até conseguir o quadro perfeito do sofrimento da criança também pode ser visto como um predador, outro abutre em cena”, escreve o St.Petersburg Florida Times.
O New York Times recebeu várias cartas de leitores perguntando sobre o destino da criança e publicou dias depois uma nota informando desconhecer o que tinha acontecido depois da foto.  De acordo com informações, a orientação da ONU era para que jornalistas e fotógrafos não entrassem em contato com as pessoas na região, para evitar doenças contagiosas e mesmo riscos de guerra.
A fotografia
O fotógrafo Kevin Carter está à espera, o que seria mais uma entre inúmeras imagens que ele já havia registrado naquele dia se transforma em uma imagem marcante, quando um abutre surge e fica a espreita, rodeando uma criança choramingando de fome-  um possível alimento.
“Se ao menos o abutre abrisse as asas”, Carter pensou. Cerca de vinte minutos se passaram, mas o fotografo não obteve sucesso. Ele desistiu de esperar e registrou várias fotos da criança e da ave, imortalizando então a imagem.
Depois de registrar as imagens Kevin afasta o abutre, senta embaixo de uma árvore e acende um cigarro. João Silva, um fotografo do mesmo grupo de Carter, conta que após a fotografia, Kevin acendeu um cigarro, falou com Deus e chorou. Depois disso ficou deprimido, dizendo que só queria abraçar a filha.
O que aconteceu com o fotografo? 
Kevin Carter
Dois meses depois de ser premiado pela fotografia, Kevin Carter estaciona a sua Nissan vermelha à beira do rio Braamfonteinspruit, onde costumava brincar quando criança. O fotografo liga uma mangueira de jardim ao tubo de escape e se fecha no carro, escreve um bilhete, coloca os fones de ouvidos, liga o motor e morre por inalação de monóxido de carbono, aos 33 anos de idade.
No documentário “The Death of Kevin Carter”, Dan Krauss, sugere que Kevin incorporou na criança “o sofrimento da África” e no abutre “o seu próprio rosto”. Megan Carter, filha do fotografo, interpreta a imagem com outros olhos “eu vejo a criança em sofrimento como o meu pai. E o resto do mundo é o abutre”, explica.
Estou deprimido, sem telefone, sem dinheiro para pagar o aluguel, sem dinheiro para ajudar as crianças, sem dinheiro para pagar as dívidas. Dinheiro! Sou assombrado pelas vívidas memórias de mortes, cadáveres, raiva e dor, de crianças feridas e esfomeadas, de loucos que assassinam alegremente, muitas vezes polícias (…). A dor de viver ultrapassa a alegria ao ponto em que esta deixa de existir”, Kevin Carter, fotógrafo.

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