segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Luta do Clube


Foram muitas críticas, boas e ruins. O “Slut Club”, ensaio fotográfico feito no inicio do mês, onde as personagens eram todas garotas, gerou repercussão na cidade. Pensando nisso a equipe do Mirassol Conectada entrou em contato com a idealizadora do ensaio, Julia Caputi, que falou um pouco sobre as fotos e a quebra de tabus. Confira:

Crédito fotografia: Nathalie Gingold

"No começo do mês, o clima ainda estava quente. Domingo, 6 de maio de 2012, Mirassol estava tranquila sob o sol, esperando os eventos de sempre darem sua continuidade. Almoço em família, futebol, barzinho, praça, missa. E, enquanto isso, dentro de um galpão velho e sujo, as coisas ferviam..."

Não, não era uma demonstração de violência gratuita, mas uma simulação artística de conceitos que iriam bater de frente com o conservadorismo...Mas, calma! Antes é preciso uma explicação rápida para quem chegou até aqui e não está entendendo nada:

Clube da Luta é um filme norte-americano de 1999, dirigido por David Fincher. O filme é baseado em  um romance homônimo de Chuck Palahniuk, publicado em 1996. O filme é protagonizado por Edward Norton e Brad Pitt. Norton representa o protagonista, um "homem comum" que está descontente com o seu trabalho de classe média na sociedade americana. Ele forma um "clube de combate" com o vendedor de sabonetes Tyler Durden, representado por Pitt.” (fonte: Wikipedia)

No filme, esses homens descontentes com suas vidas por inúmeras razões, onde a principal é a mediocridade que a sociedade dá a elas, descarregam suas frustrações uns sobre os outros em forma de lutas, onde a intenção não é buscar um vencedor mas, sim dar sentido à sua própria existência. Nomes, idades, profissões, importância social ou qualquer outra característica supérflua da qual baseamos as pessoas do nosso dia-a-dia não possuem nenhum valor no galpão velho e sujo do qual eles batizam de “Clube da Luta”.

Em determinada passagem do filme, Brad Pitt, em uma de suas melhores interpretações, viaja pelo mundo inaugurando vários outros Clubes de homens cheios de mágoas para exorcizarem. Isso tudo soa familiar para você?

Para mim e algumas outras meninas, pareceu bem peculiar. Em uma conversa, a brincadeira surgiu: “Poderíamos fazer? Temos coragem?” Já havia assistido ao filme umas boas cinco vezes para entender a mensagem que há por trás das agressões e do sangue escorrendo daqueles homens descamisados e sem sapatos. Tyler Durden conseguiu o que queria: fundou o seu clube dentro de nossas mentes cheias de “raiva” para escoar.

Mulheres, apenas. Mulheres cansadas de julgamento e subvalorização. Entediadas com as categorias que nos dão diariamente: morenas, loiras, ruivas, magrelas, gordas, gostosonas. As que servem para casar, as que servem para transar. Servir? Hoje não...e assim foi. As putas e as santas finalmente juntas, concentradas nas suas próprias dualidades para fazer de um ensaio fotográfico uma verdadeira homenagem ao conceito que o filme passa: é isso o que você é. Você não é o que esperam que você seja. Tenha a coragem de lutar por isso.

Sabíamos que em meio a diversas opiniões, inúmeras cabeças pensantes (outras, nem tanto), espremidas em uma cidade consideravelmente pequena e de interior, haveria discordância. Alguns não entenderam nada. Houve conflitos, choques de interesses, brigas e discussões sobre valores morais, tradição, acusação de feminismo...o impacto perfeito. A bomba explodiu, mas o caos gerado foi bastante oportuno. Entre críticas e elogios (que foram muitos, e agradeço a cada um deles), paramos para pensar no que fazemos de nossas vidas como mulheres, como pessoas. Em uma correria diária por trabalho, por estudo, por dinheiro, por ser, estar, fazer e morrer, onde está nosso direito de ser alguma coisa além? O direito de fazer de nossas vidas, nossa própria obra de arte? Algo que perdure, senão eternamente, o tempo necessário para fazer a diferença para alguém que necessita de um “empurrão” existencial.

Claro que a arte prevaleceu. Além de um ensaio de fotos, um curta-metragem também foi realizado. Em um dia, ganhamos um presente único: transmitir nossas emoções através de um personagem, durante algumas horas.
Aliás, quem disse que não estamos constantemente simulando e atuando, personagens de nosso próprio cotidiano?

Vale a pena pensar. Não cansamos de reafirmar o maior valor sendo esquecido, nos dias de hoje: vale a pena pensar.

Todo mundo tem algo do quê se libertar. Essa foi a nossa maneira de mostrar (e se mostrar). Independente da sua forma, o importante é estar em dia com seu direito de viver, antes de morrer.

“Será que não vou me libertar de suas regras rígidas?
Será que não vou me libertar de sua arte inteligente?
Será que não vou me libertar dos pecados e do perfeccionismo?
Digo: evolua, mesmo se você desmoronar por dentro."

Como perfeita não-atriz, vou lembrar desse dia para sempre.

*Agradecimentos especiais: Natália Campanholo, Hellen Rosa, Carla Mariel, Marina Cananda, Raphaela França, Melinda Visalli, Arlete, Aline, Carla e Zeza, as “lutadoras” de peito (à mostra ou não) e de coragem. Nathalie Gingold, Fernando Macaco, Ana Paula Olentino, Reider Pereira, Bia Lelles, Jose Fernando Pereira Loria e a toda equipe que está mexendo e editando o ensaio, que viabilizaram toda essa baderna. Lucinéia Francisco e Adriano Amendola, que apoiaram o início, o fim e o meio dessa história toda. E a todo mundo que acreditou e continua acreditando que precisamos todos agitar o doce de vez em quando, para não estragar e nem azedar!"

E aí, quer conferir o ensaio na íntegra? Clique aqui

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